A diplomacia estadunidense e a dissidência cubana
Cuba

A diplomacia estadunidense e a dissidência cubana


Por Salim Lamrani
Fonte: PRAVDA
Tradução: Coletivo Paulo Petry, núcleo do PCB/UJC em Cuba

Introdução

Há 50 anos, a política exterior de Washington relacionada à La Habana, cujo objetivo é conseguir uma mudança de regime, baseia-se em dois pilares fundamentais: a imposição de sanções econômicas drásticas - que afetam a todos os setores da sociedade cubana - e a organização e financiamento de uma oposição interna.

Assim, em seis de abril de 1960, Lester D. Mallory, subsecretário adjunto de Estado para os Assuntos Interamericanos, recordava em um memorando a Roy R. Rubottom Jr., então secretário de Estado para os Assuntos Interamericanos, o objetivo das sanções econômicas: "A maioria dos cubanos apóia a Castro. Não há oposição política eficaz (...). O único meio possível para aniquilar o apoio interno (ao regime) é provocar o desencanto e o desalento pela insatisfação econômica e pela penúria (...). Se devem empregar rapidamente todos os meios possíveis para debilitar a vida econômica de Cuba (...). Uma medida que poderia ter um forte impacto seria negar todo financiamento ou envio a Cuba, o que reduziria os ingressos monetários e os salários reais e provocaria a fome, o desespero e o derrocamento do governo".(i)

De 1959 a 1990, o programa de criação de uma dissidência interna se manteve secreto. Assim, os arquivos estadunidenses parcialmente desclassificados confirmam a existência de múltiplos programas destinados a criar uma oposição ao governo Fidel Castro, a qual serviria aos interesses dos Estados Unidos, que desejava uma mudança de regime. A partir de 1991, com o desmoronamento da União Soviética, o apoio financeiro e logístico aos dissidentes cubanos voltou a ser público e foi integrado à legislação estadunidense.

O financiamento da oposição interna

Durante uma reunião do Conselho de Segurança Nacional celebrada em 14 de janeiro de 1960, o subsecretário Livingston Merchant declarou: "Nosso objetivo é ajustar todas nossas ações com vistas a acelerar o desenvolvimento de uma oposição em Cuba (...)". Por sua parte, o secretário adjunto para os Assuntos interamericanos, Roy Rubottom, afirmou que "o programa aprovado (destinado a derrocar o governo cubano) nos autorizou a brindar nossa ajuda a elementos que se opõem ao governo Castro em Cuba para que pareça que sua caída é o resultado de seus próprios erros".(ii)

A partir de 1991, persuadido de que a hora final da Revolução havia chegado, os Estados Unidos não vacilou em publicar seu apoio à oposição interna. A seção 1705 estipula que os "Estados Unidos proporcionarão assistência às organizações não governamentais adequadas para apoiar a indivíduos e organizações que promovem uma mudança democrática não violenta em Cuba".(iii)

A seção 109 da Lei Helms-Burton de 1996 prevê que "o presidente [dos Estados Unidos] está autorizado a proporcionar assistência e oferecer todo tipo de apoio a indivíduos e organizações não governamentais independentes para unir os esforços com vistas a construir uma democracia em Cuba".(iv)

O primeiro informe da Comissão de Assistência a uma Cuba Livre prevê a elaboração de um "sólido programa de apoio que favoreça a sociedade civil cubana". Entre as medidas previstas se destina um financiamento de 36 milhões de dólares, ao "apoio da oposição democrática e ao fortalecimento da sociedade civil emergente".(v)

Em três de março de 2005, Roger Noriega, Secretário Adjunto para os Assuntos do Hemisfério Ocidental da administração Bush, assinalou que haviam sido adicionados 14,4 milhões de dólares ao orçamento de 36 milhões de dólares previsto no informe de 2004. Noriega revelou a identidade de algumas das pessoas que se encarregam da elaboração da política exterior estadunidense contra Cuba, a saber, Marta Beatriz Roque, as Damas de Branco e Osvaldo Payá.(vi)

O segundo informe da Comissão de Assistência a uma Cuba Livre prevê um orçamento de 31 milhões de dólares para financiar, ainda mais, a oposição interna.(vii) Ademais, está previsto um financiamento de ao menos 20 milhões de dólares anuais, com o mesmo objetivo, para os anos seguintes "até que a ditadura deixe de existir". O plano prevê também "treinar e equipar jornalistas independentes da imprensa escrita, radiofônica e televisiva em Cuba".(viii)

A Agência Estadunidense para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que depende do governo federal admite que financia a oposição cubana. Segundo a agência, para o ano fiscal de 2009, a soma de ajuda destinada aos dissidentes cubanos foi elevada a 15,62 milhões de dólares. "A grande maioria desta soma destina-se a indivíduos que se encontram em Cuba. Nosso objetivo é maximizar a soma de apoio do qual se beneficiam os cubanos na ilha".(ix)

A organização governamental enfatiza também o seguinte ponto: "temos formado uma centena de jornalistas num período de dez anos cujo trabalho tem aparecido em grandes meios de comunicação internacionais". Essa declaração destroça as afirmações sobre o caráter independente dos jornalistas opositores em Cuba. Formados e financiados pelos Estados Unidos respondem ante tudo aos interesses de Washington, cujo objetivo é, como assinalam os documentos oficiais do Departamento de estado, uma "mudança de regime" na ilha.(x)

Desde o ponto de vista jurídico, essa realidade coloca de fato os dissidentes que aceitam os emolumentos oferecidos pela USAID em uma situação de agentes ao serviço de uma potência estrangeira, o que constitui uma grave violação do Código Penal em Cuba, mas também em qualquer país do mundo. Consciente dessa realidade, a Agência recorda que "ninguém está obrigado a aceitar ou formar parte dos programas do governo dos Estados Unidos".(xi)

A representação diplomática estadunidense em La Habana, a Seção de Interesses Norte-americanos (SINA), confirma em um comunicado: "A política estadunidense, há muito tempo, é proporcionar assistência humanitária ao povo cubano, especificamente às famílias de presos políticos".(xii)

Laura Pollán, do grupo dissidente As Damas de Branco, admite que recebe dinheiro dos Estados Unidos: "aceitamos a ajuda, o apoio, desde a ultra direita até a esquerda, sem condições".(xiii) O opositor Vladimiro Roca confessa que a dissidência cubana está subvencionada por Washington alegando que a ajuda financeira recebida é "total e completamente lícita". Para o dissidente René Gómez, o apoio econômico dos Estados Unidos "não é uma coisa que há que ocultar ou que temos que nos envergonhar".(xiv) Da mesma maneira, o opositor Elizardo Sánchez confirma a existência de um financiamento por parte dos Estados Unidos: "a chave não está em quem envia a ajuda, mas o que se faz com a ajuda".xv Por seu lado, Marta Beatriz Roque declara que a ajuda financeira recebida dos Estados Unidos é indispensável para sua atividade de dissidente." (xvi)

Agence France-Presse informa que "os dissidentes, por sua parte, reivindicaram e assumiram essas ajudas econômicas".(xvii) A agência espanhola EFE, alude aos "opositores pagos pelos Estados Unidos".(xviii) Segundo a agência de imprensa britânica Reuters, "o governo estadunidense proporciona abertamente um apoio financeiro federal para as atividades dos dissidentes, o que Cuba considera um ato ilegal". (xix)

A agência de imprensa estadunidense The Associated Press afirma que a política de fabricar e financiar uma oposição interna não é nova: "Há anos, o governo dos Estados Unidos gasta milhões de dólares para apoiar a oposição cubana".(xx) Também recorda o nível de vida dos dissidentes que se beneficiam ao mesmo tempo dos emolumentos de Washington e do sistema social cubano:

"Uma parte do financiamento provém diretamente do governo dos Estados Unidos, cujas leis promovem o derrocamento do governo cubano. A Agência Internacional para o Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID), que supervisiona o apoio financeiro do governo para uma 'transição democrática' em Cuba, tem dedicado mais de 33 milhões de dólares à sociedade civil para o presente ano fiscal [2008]".

Quase todos os cubanos, inclusive os dissidentes, dispõem de uma casa gratuita, de acesso gratuito à saúde e à educação até a universidade. Rações de arroz, batatas, sabão e outros produtos básicos permitem às pessoas satisfazerem suas necessidades básicas durante quase todo o mês.(xxi)

O diário francês Libération assinalou que "Fariñas nunca negou que recebe 'doações' da Seção de interesses norte-americanos para procurar um computador e exercer seu ofício de 'jornalista independente' na Internet".(xxii)

A Anistia Internacional admite que "pessoas as quais considera presos de consciência" têm "recebido fundos ou materiais do governo estadunidense para realizar atividades que as autoridades consideram subversivas e prejudiciais para Cuba".(xxiii)

Wayne S. Smith, último embaixador estadunidense em Cuba, confirma o caráter subversivo da política estadunidense. Segundo ele, é completamente "ilegal e imprudente mandar dinheiro aos dissidentes cubanos".(xxiv) Agrega que "ninguém deveria dar dinheiro aos dissidentes e menos ainda com o objetivo de derrocar ao governo cubano" pois "quando os Estados Unidos declara que seu objetivo é derrocar ao governo cubano e depois afirmam que um de seus meios para lográ-lo é proporcionar fundos aos dissidentes cubanos, estes se encontram de fato na posição de agentes pagos por uma potência estrangeira para derrocar seu próprio governo".(xxv).

Uma dissidência que carece de toda base popular segundo Washington

Apesar dos recursos políticos, econômicos, midiáticos e financeiros que se dedicam à oposição cubana, esta sempre careceu de toda base popular. Além disso, está profundamente dividida e envelhecida. É a amarga constatação que faz Jonathan D. Farrar, atual chefe da SINA em La Habana, em um memorando confidencial de 15 de abril de 2008 intitulado "Estados Unidos e o papel da oposição em Cuba", dirigido ao Departamento de Estado.(xxvi)

O diplomata assinala primeiro que o presidente cubano Raul Castro encontra-se atualmente em "uma posição de autoridade indiscutível". Quanto ao papel da dissidência, é "nulo" pois "os grupos de opositores se encontram dominados por indivíduos com fortes egos que não trabalham juntos". Farrar precisa que "o movimento dissidente em Cuba envelhece e está completamente desconectado da realidade dos cubanos". Em efeito, graças aos emolumentos que recebe, a dissidência cubana leva um modo de vida que nenhum cidadão normal pode permitir-se.(xxvii)

Farrar reconhece que está regularmente em contato "com a maioria do movimento dissidente oficial em La Habana", cujos membros visitam freqüentemente a SINA. Não obstante, afirma que "nenhuma prova permite demonstrar que as organizações dissidentes dominantes em Cuba tenham uma influência sobre os cubanos. As sondagens informais realizadas entre os solicitantes de visto e asilo tem demonstrado que apenas têm conhecimento das personalidades dissidentes ou de sua agenda."(xxviii)

Farrar explica isso pela idade dos opositores, a maioria entre 50 e 70 anos, e cita a Francisco Chaviano, René Gómez Manzano e Oswaldo Payá.

"Eles têm muito pouco contato com a juventude cubana, e sua mensagem não interessa a esse segmento da sociedade". O diplomata lamenta as lutas internas dentro dos diferentes grupos e a falta de unidade. Seu juízo é implacável: "Apesar das informações segundo as quais representam 'milhares de cubanos', não temos nenhuma prova de semelhante apoio, pelo menos ao que se refere a La Habana onde nos encontramos". Agrega que "não têm influência na sociedade cubana e não oferecem alternativa política ao governo de Cuba".xxix

Outros diplomatas europeus compartem essa opinião, e a expressaram durante um encontro com Farrar. "Os representantes da União Européia durante a reunião desqualificaram aos dissidentes nos mesmos termos que os do governo de Cuba, insistindo no fato de que 'não representam a ninguém".(xxx)

Há uma razão para isso e encontra-se na idiossincrasia cubana. A sociedade cubana está longe de ser monolítica e os setores insatisfeitos da população se mostram severos em suas críticas às autoridades quando se trata de denunciar as contradições, as aberrações, o sectarismo e as injustiças que às vezes engendra o sistema cubano. As críticas são acerbas e sem concessões, e segundo Farrar os meios cubanos os difundem. A SINA aponta que "muitos artigos de imprensa são muito críticos com as políticas atuais".(xxxi) Não obstante, apesar das vicissitudes cotidianas, os cubanos seguem sendo visceralmente zelosos de sua independência e sua soberania nacionais e não podem conceber que um de seus compatriotas possa aceitar estar ao serviço de uma potência estrangeira que sempre almejou retomar a posse da ilha. Trata-se da herança política "antiimperialista" que deixaram os próceres da história da nação como José Martí, Antônio Maceo, Máximo Gomez, Julio Antônio Mella, Antônio Guiteras, Eduardo Chibas e Fidel Castro.

A diplomacia estadunidense assinala também outra razão: a persistente popularidade de Fidel Castro entre os cubanos cinqüenta anos depois de sua chegada ao poder. "Seria um erro subestimar [...] o apoio do qual dispõe o governo, particularmente entre as comunidades populares e os estudantes".xxxii Farrar enfatiza "a significativa admiração pessoal por Fidel na sociedade cubana".(xxxiii)

A SINA fustiga também a falta de programa assim como a cobiça dos opositores, interessados somente pelos recursos financeiros que podem trazer o negócio da dissidência. "Seu maior esforço consiste em conseguir suficientes recursos para que os principais organizadores e seus partidários possam viver comodamente. Uma organização política nos afirmou aberta e francamente que necessitava dinheiro para pagar salários e apresentou um orçamento com a esperança de que a SINA se encargaria dos gastos. Além da busca de fundos, que é sua principal preocupação, sua segunda prioridade parece que é criticar ou marginalizar as atividades de seus competidores, para preservar seu poder e seu acesso aos recursos".(xxxiv)

Não obstante, Farrar reitera a importância da oposição na realização dos objetivos estadunidenses e, por isso, "há que apoiá-la", e buscar ao mesmo tempo uma alternativa com o fim de estimular o movimento dissidente em Cuba.(xxxv)

A prioridade Yoani Sánchez

A diplomacia estadunidense vê na blogueira Yoani Sánchez uma alternativa crível à dissidência tradicional e confia nela, o que explica sua fama internacional enquanto que é uma total desconhecida em Cuba. "Pensamos que a jovem geração de dissidentes não tradicionais, como Yoani Sánchez, pode desempenhar um papel em longo prazo em uma Cuba pós-Castro". Farrar aconselha assim ao Departamento de Estado que concentre seus esforços nessa dissidente e lhe brinde mais apoio.(xxxvi)

De fato, a história atípica de Yoani Sánchez suscita algumas interrogantes. Depois de emigrar a Suíça em 2002, decidiu regressar a Cuba dois anos depois, em 2004. Em 2007, decidiu integrar o universo da oposição em Cuba ao criar seu blog Generación Y, e se converte em uma acérrima detratora do governo de La Habana.(xxxvii)

Suas críticas são acerbas e pouco matizadas. Apresenta um panorama apocalíptico da realidade cubana e acusa as autoridades de todos os problemas. Segundo ela, Cuba é "uma imensa prisão com muros ideológicos"(xxxviii), um "barco que faz águas a ponto do naufrágio"xxxix, onde "seres das sombras, que como vampiros se alimentam de nossa alegria humana, nos inoculam o temor através do golpe, da ameaça, a chantagem."(xl) O blog de Yoani Sánchez descreve a realidade cubana de modo terrífico e nenhum aspecto positivo da sociedade cubana aparece. Do mesmo modo, alude minuciosamente o singular contexto geopolítico no qual se encontra Cuba desde 1959.

Sánchez tem um discurso muito preciso que se acerca à oposição estadunidense. Assim, minimiza o impacto das sanções econômicas - "uma desculpa" para o governo cubano - afirmando que "o governo cubano é responsável por 80% da crise econômica atual e os 20% é pelas sanções econômicas."(xli) A comunidade internacional, longe de compartilhar essa opinião, condenou (187 países contra 2) o estado de sítio econômico em 2010 pela décima nona vez consecutiva, ao considerá-lo como o principal obstáculo para o desenvolvimento da ilha. Justifica essa realidade pelas nacionalizações ocorridas nos anos 1960 e pela crise dos mísseis.(xlii) Segundo ela, "o bloqueio tem sido o argumento perfeito do governo cubano para manter a intolerância, o controle e a repressão interna. Se amanhã levantassem as sanções, duvido muito que se veriam os efeitos".(xliii)

Quanto ao caso dos cinco agentes cubanos condenados em 1998 à prisão perpétua nos Estados Unidos por infiltrar-se em grupelhos responsáveis de atentados terroristas contra Cuba, a blogueira adota também o ponto de vista estadunidense e afirma que "os cinco realizavam atividades de espionagem" e que "deram informação que causou a morte de várias pessoas", uma realidade que o fiscal do tribunal de Miami reconheceu que era incapaz de demonstrar.(xliv)

Não obstante, a Corte de Apelação de Atlanta reconheceu que não se tratava de um caso de espionagem, nem de um atentado contra a seguridade nacional. Não menos de dez Prêmios Nobel apresentaram uma petição Amicus Curiae à Corte Suprema estadunidense, exigindo um juízo justo e a liberação dos cinco cubanos. Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e Alta Comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas entre 1997 e 2002, o Senado mexicano por unanimidade, com todas as suas tendências políticas juntas, a National Association of Criminal Defense Lawyers, os Cuban-American Scholars, o Ibero-American Federation of Ombudsmen, o National Jury Project, o William C Velazques Institute and the Mexican American Political Association, o National Lawyers Guild e a National Conference of Black Lawyers, o Civil Right Clinic da Howard University School of Law, a International Association of Democratic Lawyers, a Florida Association of Criminal Defense Lawyers-Miami Chapter, o Center for International Policy y o Council on Hemispheric Affairs pediram a liberação dos cinco cubanos.(xlv)

Esse caso jurídico tem sido denunciado várias vezes. A Anistia Internacional considera aos cinco cubanos presos políticos. Por sua parte, o coronel Lawrence Wilkerson, antigo Chefe do Estado Maior do gabinete do ex-Secretário de Estado Colin Powell, condenou o juízo contra essas pessoas: "chega ao cúmulo: castigar com prisão perpétua a homens que vieram aqui para determinar como e quando iria ser atacado seu país por pessoas que violam a lei norte-americana". Segundo ele, "esta é uma paródia de justiça. Esses homens não tinham armas, não planejaram dano físico algum contra os Estados Unidos, e foram motivados pela idéia de proteger seus compatriotas de uma invasão e de ataques repetidos por cubano-americanos residentes na Florida". Logo, agregou:

"Temos que nos perguntar também como pode ser que havemos chegado a constituir um santuário para presumidos terroristas? Como pode ser que os Estados Unidos da América poderiam ocupar um lugar em nossa própria lista de patrocinadores do terrorismo".(xlvi)

Da mesma maneira, Yoani Sánchez minimiza as conquistas sociais do sistema cubano e afirma que "existiam"(xlvii) na Cuba dos anos anteriores à Revolução. Segundo ela, sob a ditadura de Batista, "havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de toda tendência política".(xlviii) Por outra parte, defende a lei de Ajuste Cubano - única no mundo - aprovada pelo Congresso estadunidense em 1966, que estipula que todo cubano que emigra legal ou ilegalmente aos Estados Unidos depois de 1º de janeiro de 1959 consegue automaticamente o status de residente permanente ao fim de um ano, assim como diversas ajudas sócio-econômicas.(xlix) Mais insólito, pensa que o escritor colombiano Gabriel García Márquez não merecia seu Prêmio Nobel de Literatura, pela sua amizade com Fidel Castro: "muitos escritores latino-americanos mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais do que Gabriel García Márquez".(l) Consciente de que o objetivo do governo dos Estados Unidos é derrocar o governo cubano, admite sem complexos que comparte do mesmo objetivo: "Estados Unidos deseja uma mudança política em Cuba, mas é o que desejo eu também".(li) Sánchez reafirma também sua vontade de impor "um capitalismo sui generis" em Cuba.(lii)

Assim, em apenas um ano de existência, enquanto existem dezenas de blogs mais antigos e não menos interessantes que o de Sánchez, a blogueira cubana conseguiu o Premio de Jornalismo Ortega e Gasset, dotado de 15.000 euros, em 4 de abril de 2008, outorgado pelo diário espanhol El País. De costume, esse prêmio se outorga a prestigiosos jornalistas ou escritores que apresentam uma longa carreira literária. É a primeira vez que uma pessoa com o perfil de Sánchez o obtém.(liii) Da mesma maneira, a blogueira cubana foi selecionada entre as 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time (2008), em companhia de George W. Bush, Hu Jintao e o Dalai Lama.(lIV) Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores blogs do mundo da cadeia CNN e a revista Time (2008) e também logrou o prêmio espanhol Bitacoras.com assim como The Bob's (2008).(lv) Em 30 de novembro de 2008 o diário espanhol El País a incluiu na sua lista das 100 personalidades hispano-americanas mais influentes do ano (lista na qual não apareceram nem Fidel Castro, nem Raul Castro).(lvi) A revista Foreign Policy fez mais ainda em dezembro de 2008, ao incluí-la entre os intelectuais mais importantes do ano.(lvii) A revista mexicana Gato Pardo fez o mesmo em 2008.(lviii) A prestigiosa universidade estadunidense de Columbia concedeu-lhe o prêmio María Moors Cabot.(lix) E a lista é longa.(lx)

Por outra parte, o site Generación Y de Yoani Sánchez recebe 14 milhões de visitas ao mês e é o único que está disponível em não menos de 18 idiomas (inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, português, russo, esloveno, polaco, chinês, japonês, lituano, checo, búlgaro, holandês, finlandês, húngaro, coreano y grego). Nenhum outro site do mundo, inclusive os das mais importantes instituições internacionais como, por exemplo, as Nações Unidas, O Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE ou a União Européia, dispõe de tantas versões lingüísticas. Nem o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos nem o da CIA dispõem de semelhante variedade.lxi Outro fato único, o presidente estadunidense Barack Obama concedeu uma entrevista a Yoani Sánchez.(lxii)

Jamais nenhum dissidente em Cuba - quiçá no mundo - tenha conseguido tantas distinções em tão pouco tempo, com uma característica particular: entregam a Yoani Sánchez suficiente dinheiro para viver tranquilamente em Cuba o resto da sua vida. De fato, a blogueira tem sido retribuía à altura de 250.000 euros no total, isto é, um importe equivalente a mais de vinte anos de salário mínimo num país como a França, quinta potência mundial. O salário mínimo mensal em Cuba é de 420 pesos, ou seja, 18 dólares ou 14 euros, pelo qual Yoani Sánchez conseguiu o equivalente a 1.488 anos de salário mínimo cubano pela sua atividade de opositora.(lxiii)

Yoani Sánchez está em estreita relação com a diplomacia estadunidense em Cuba, como assinala um informe, classificado "secreto" por seu conteúdo sensível, que emana da SINA. A administração Obama valora muito a blogueira cubana como demonstra a reunião secreta que teve lugar no apartamento da opositora com a subsecretária de Estado estadunidense Bisa Williams durante sua visita a Cuba entre 16 e 22 de setembro de 2010. Durante seu encontro com Williams, Sánchez comunicou seu desejo de beneficiar-se dos serviços da empresa estadunidense de transferência de dinheiro Paypal - que os cubanos não podem utilizar por causa das sanções econômicas - para lutar mais eficazmente a favor de uma mudança de regime em Cuba: "Você sabe tudo o que poderíamos fazer se pudéssemos utilizar o Paypal?" Esse serviço permite receber fluxos financeiros de todo o mundo. A opositora tem sido escutada, pois o único site cubano que se beneficia dos serviços de Paypal é Generación Y. Enquanto a dissidente conta regularmente sua vida cotidiana em seu blog, não se encontra nenhum rastro de seu encontro com Williams, o que demonstra seu caráter clandestino. Esse correio diplomata revela assim os vínculos entre a midiática blogueira cubana e os representantes estadunidenses em La Habana e a importância que Washington dá à opositora.(lxiv)

Outro memorando recorda também a importância da entrevista que concedeu o presidente Barack Obama a Sánchez, que contribuiu à midiatização internacional da opositora cubana.(lxv)

Ausência de perspectivas para a oposição cubana

Não obstante, Farrar é realista: "nenhum dissidente tem uma visão política que poderia aplicar-se em um futuro governo. Ainda que os dissidentes não o admitam, são muito pouco conhecidos em Cuba fora do corpo diplomata e midiático estrangeiro [...]. É pouco provável que desempenhem um papel significativo em um governo que sucederia aos irmãos Castro".(lxvi)

A diplomacia estadunidense assinala que o objetivo é "apoiar o bom trabalho do movimento dissidente" em sua campanha contra o governo de La Habana, enfocando o trabalho no tema dos "direitos humanos" e os "presos políticos", as duas razões que esgrime Washington para manter as sanções econômicas contra Cuba. Essa campanha se destina sobretudo à opinião pública internacional pois, segundo Farrar, "não interessa aos cubanos cujas principais preocupações são ter um melhor nível de vida e mais oportunidades para viajar mais livremente".(lxvii)

Em outro informe, a SINA admite também encontrar-se isolada sobre a questão dos direitos humanos em Cuba: "A imensa maioria das 100 missões diplomáticas estrangeiras em La Habana não enfrentam um dilema dos direitos humanos em suas relações com os cubanos. Esses países não abordam esse tema. O resto, um grupo que inclui uma maioria da Europa, Canadá, Austrália, Japão e Estados Unidos, afirma que emprega enfoques diferentes para evocar a questão dos direitos humanos em Cuba, mas a verdade é que a maior parte desses países não incide sobre a questão em Cuba".(lxviii)

A SINA observa também que alguns aliados dos Estados Unidos, como Canadá, não compartem a mesma opinião sobre a questão dos "presos políticos", e recorda uma discussão com seus homólogos canadenses: "Nossos colegas canadenses nos perguntaram o seguinte: Por acaso alguém que aceita dinheiro dos Estados Unidos deve ser considerado como um preso político?". A diplomacia canadense recordou assim que todas as nações ocidentais também sancionam aos indivíduos que são financiados por uma potencia estrangeira com o objetivo de derrocar a ordem estabelecida.(lxix)

A diplomacia estadunidense não se ilude sobre a eficácia das sanções econômicas estadunidenses contra a ilha, que tem unido o país a uma séria crise econômica. Segundo ela, "o povo cubano está acostumado aos períodos difíceis e responderá às restrições governamentais futuras com uma resistência similar".(lxx) Descarta a possibilidade de uma grave crise e aponta que "Cuba e os cubanos não são tão vulneráveis como em 1989 antes do fim dos subsídios soviéticos". Por outra parte, "o nível de vida dos cubanos, ainda que não seja tão elevado como há vinte anos antes do fim da ajuda soviética, segue sendo muito melhor do que durante os dias mais sombrios do período entre 1990 e 1993, quando o PIB caiu mais de 35%". Além disso, "a economia cubana atual é menos vulnerável [...] graças às fontes de ingressos e de créditos mais diversificados e a uma população cubana com mais recursos."(lxxi)

Não obstante, apesar das sanções econômicas que Washington impõe, a diplomacia estadunidense assinala que os cubanos não sentem uma particular animosidade em relação aos cidadãos estadunidenses, pois não consideram o povo do Norte responsável pela política de Washington. A SINA sublinha assim "os sentimentos positivos em relação ao povo americano".(lxxii)

Conclusão

Quase meio século depois de sua elaboração, a política estadunidense que consiste em criar e apoiar uma oposição interna em Cuba segue vigente. Esta estratégia, clandestina durante cerca de trinta anos, é agora reivindicada e pública, ainda que o direito internacional a considere ilegal. Assim, o financiamento da oposição cubana por parte dos Estados Unidos alcança vários milhões de dólares ao ano. Frente à erosão da dissidência tradicional que representam Oswaldo Payá, Elizardo Sánchez, Vladimiro Roca, Marta Beatriz Roque, Guillermo Fariñas e as Damas de Blanco, Washington aposta agora pela nova geração de opositores cuja figura emblemática é a blogueira cubana Yoani Sánchez.

Os contatos diplomatas da blogueira dissidente lhe permitem chegar até a Casa Branca e se reúne regularmente com os altos funcionários estadunidenses tais como Bisa Williams. Para evitar as críticas, Estados Unidos diversificam seu apoio à oposição cubana. Além da ajuda financeira direta que propõem, têm elaborado, graças à poderosa rede pública e midiática que dispõe, um sistema de financiamento "legal" que consiste em recompensar a oposição ao governo de La Habana mediante prêmios dotados de várias de dezenas de milhares de dólares, como ilustra a avalanche de distinções que tem recebido Sánchez, a nova ninfa Egéia de Washington, no espaço de alguns meses.

O objetivo de Washington já não é federar a população cubana ao redor dessas pessoas que preconizam uma mudança de sistema em Cuba, pois sabe que seu discurso não é audível entre os habitantes da ilha, cuja maioria permanece fiel ao processo revolucionário apesar das dificuldades e vicissitudes cotidianas.

A oposição aliada aos Estados Unidos, no melhor dos casos, suscita a indiferença entre os cubanos, e muitas vezes o rechaço. A guerra é mais de ordem midiática. Ao manter a presença de uma oposição interna, inclusive sem envergadura e carente de toda base popular, permite justificar sua política de isolamento e de sanções contra o governo de La Habana em nome da luta "pelos direitos humanos e a democracia".


Salim Lamrani é Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, é professor encarregado de cursos na Universidade Paris-Sorbonne-Paris IV e na Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée e jornalista francês, especialista em relaciones entre Cuba e Estados Unidos. Acaba de publicar Cuba: Ce que les médias ne vous diront jamais .

Notas
iLester D. Mallory, « Memorandum From the Deputy Assistant Secretary of State for Inter-American Affairs (Mallory) to the Assistant Secretary of State for Inter-American Affairs (Rubottom) », 6 de abril de 1960, Department of State, Central Files, 737.00/4-660, Secret, Drafted by Mallory, in Foreign Relations of the United States (FRUS) , 1958-1960, Volume VI, Cuba: (Washington: United States Government Printing Office, 1991), p. 885.
ii Marion W. Boggs, « Memorandum of Discussion at 432d meeting of the National Security Council, Washington », 14 de janeiro de 1960, Eisenhower Library, Whitman File, NSC Records, Top Secret, in Foreign Relations of the United States 1958-1960 (Washington: United States Government Printing Office, 1991), pp. 742-743.
iii Cuban Democracy Act , Título XVII, Seção 1705, 1992.
iv Helms-Burton Act , Título I, Seção 109, 1996.
v Colin L. Powell, Commission for Assistance to a Free Cuba , (Washington: United States Department of State, mayo 2004).
www.state.gov/documents/organization/32334.pdf (sitio consultado em 7 de maio de 2004), pp. 16, 22.
vi Roger F. Noriega , « Assistant Secretary Noriega 's Statement Before the House of Representatives Committee on International Relations » , Department of State, 3 de março de 2005 . (site consultado em 9 abril 2005 ).
vii Condoleezza Rice & Carlos Gutiérrez, Commission for Assistance to a Free Cuba , (Washington: United States Department of State, julho2006). www.cafc.gov/documents/organization/68166.pdf (sitio consultado em 12 de julho de 2006), p. 20.
viii Ibíd. , p. 22.
ixAlong the Malecon, «Exclusive: Q & A with USAID», 25 de outubro de 2010. http://alongthemalecon.blogspot.com/2010/10/exclusive-q-with-usaid.html (sitio consultado em 26 de outubro de 2010).
x Ibíd.
xi Ibíd.
xii The Associated Press/El Nuevo Herald , « Cuba: EEUU debe tomar 'medidas' contra diplomatas», 19 de maio de 2008.
xiii El Nuevo Herald , «Disidente cubana teme que pueda ser encarcelada», 21 de maio de 2008.
xiv Patrick Bèle, «Cuba accuse Washington de payer les dissidentes», Le Figaro , 21 de maio de 2008.
xv Agence France-Presse, «Prensa estatal cubana hace inusual entrevista callejera a disidentes», 22 de maio de 2008.
xvi Tracey Eaton, «Factions Spar Over U.S. Aid for Cuba», The Houston Chronicle, 18 de dezembro de 2010.
xvii Agence France-Presse, «Financement de la dissidence: Cuba 'somme' Washington de s'expliquer», 22 de maio de 2008.
xviii EFE, «Un diputado cubano propone nuevos castigos a opositores pagados por EE UU», 28 de maio de 2008.
xix Jeff Franks, «Top U.S. Diplomat Ferried Cash to Dissident: Cuba», Reuters, 19 de maio de 2008.
xx Ben Feller, «Bush Touts Cuban Life After Castro», Associated Press, 24 de outubro de 2007.
xxi Will Weissert, «Activistas cubanos dependen del financiamiento extranjero», The Associated Press , 15 de agosto de 2008.
xxii Félix Rousseau, «Fariñas, épine dans le pied de Raúl Castro», Libération , 17 de março de 2010.
xxiii Amnesty International , «Cuba. Cinq années de trop, le nouveau gouvernement doit libérer les dissidents emprisonnés», 18 de março de 2008. http://www.amnesty.org/fr/for-media/press-releases/cuba-five-years-too-many-new-government-must-release-jailed-dissidents-2 (sitio consultado em 23 de abril de 2008).
xxiv Radio Habana Cuba , «Former Chief of US Interests Section in Havana Wayne Smith Says Sending Money to Mercenaries in Cuba is Illegal», 21 de maio de 2008.
xxv Wayne S. Smith, «New Cuba Commission Report: Formula for Continued Failure», Center for International Policy , 10 de julho de 2006.
xxvi Jonathan D. Farrar, «The U.S. and the Role of the Opposition in Cuba», United States Interests Section, 9 de abril de 2009, cable 09HAVANA221. http://213.251.145.96/cable/2009/04/09HAVANA221.html (sitio consultado em 18 de dezembro de 2010).
xxvii Ibid.
xxviii Ibid.
xxix Ibid.
xxx Joaquin F. Monserrate, «GOC Signals 'Readiness to Move Forward'», United States Interests Section , 25 de setembro de 2009, cable 09HAVANA592, http://213.251.145.96/cable/2009/09/09HAVANA592.html (sitio consultado em 18 de dezembro de 2010).
xxxi Jonathan D. Farrar, «Key Trading Parters See No Big Economic Reforms», United States Interests Section , 9 de fevereiro de 2010, cable 10HAVANA84, http://213.251.145.96/cable/2010/02/10HAVANA84.html (sitio consultado em 18 de dezembro de 2010).
xxxiiMichael E. Parmly, «Comsec Discusses Freedom and Democracy With Cubain Youth», United States Interests Section , 18 de janeiro de 2008, 08HAVANA66, http://213.251.145.96/cable/2008/01/08HAVANA66.html (sitio consultado em 18 de dezembro de 2010).
xxxiii Jonathan D. Farrar, «The Speculation on Fidel's Health », United States Interests Section , 9 de janeiro de 2009, cable 09HAVANA35, http://213.251.145.96/cable/2009/01/09HAVANA35.html (sitio consultado em 18 de dezembro de 2010).
xxxiv Jonathan D. Farrar, «The U.S. and the Role of the Opposition in Cuba », United States Interests Section, 9 de abril de 2009, op. cit.
xxxv Ibid.
xxxvi Jonathan D. Farrar, «The U.S. and the Role of the Opposition in Cuba», United States Interests Section, 9 de abril de 2009, cable 09HAVANA221. http://213.251.145.96/cable/2009/04/09HAVANA221.html (sitio consultado em 18 de dezembro de 2010).
xxxvii Yoaní Sánchez, «Mi perfil», Generación Y.
xxxviii France 24, «Ce pays est une immense prison avec des murs idéologiques», 22 de outubro de 2009.
xxxixYoaní Sánchez, «Siete preguntas», Generación Y, 18 de novembro de 2009.
xl Yoaní Sánchez, «Seres de la sombra», Generación Y, 12 de novembro de 2009.
xli Salim Lamrani, «Conversaciones con la bloguera cubana Yoani Sánchez», 15 de abril de 2010, Rebelión. http://www.rebelion.org/noticia.php?id=104205 (sitio consultado em 20 de dezembro de 2010).
xlii Ibid. Yoaní Sánchez sobre la crisis de los misiles: Ouvir entrevista
xliii Ibid. Yoaní Sánchez sobre las sanciones económicas: Ouvir entrevista
xlivIbid. Yoaní Sánchez sobre los Cinco: Ouvir entrevista
xlv Supreme Court of the United States, «Brief of Amici Curiae of José Ramos-Horta, Wole Soyinka, Adolfo Pérez Esquivel, Nadine Gordimer, Rigoberta Menchú, José Saramago, Zhores Alferov, Dario Fo, Gunter Grass, and Máeread Corrigan Maguire in support of the petition for writ of certiorari», N° 08-987, http://www.freethefive.org/legalFront/amicusnobel.pdf (sitio consultado el 12 de março de 2009). Veja également http://www.freethefive.org/resourceslegal.htm (sitio consultado em 12 de março de 2009)
xlvi Granma, «Ex ayudante de Colin Powell denuncia arbitrariedades contra los Cinco», 24 de novembro de 2007.
http://www.granma.cubaweb.cu/miami5/enjuiciamiento/justicia/0093.html (sitio consultado em 15 de novembro de 2008).
xlvii Salim Lamrani, «Conversaciones con la bloguera cubana Yoani Sánchez», op.cit.
xlviiiIbid. Yoaní Sánchez sobre a dictadura de Fulgencio Batista: Ouvir entrevista
xlix Ibid. Yoaní Sánchez sobre a lei de Ajuste Cubano: Ouvir entrevista
l Ibid. Yoaní Sánchez sobre Gabriel Garcia Márquez: Ouvir entrevista
li Ibid. Yoaní Sánchez sobre el objetivo común con Estados Unidos: Ouvir entrevista
lii Mauricio Vicent, «Los cambios llegarán a Cuba, pero no a través del guión del Gobierno», El País, 7 de maio de 2008.
liii El País, «EL PAÍS convoca los Premios Ortega y Gasset de periodismo 2009», 12 de janeiro de 2009.
liv Time, «The 2008 Time 100», 2008. http://www.time.com/time/specials/2007/0,28757,1733748,00.html (sitio consultado em 25 de novembro de 2009)
lv Yoani Sánchez, «Premios», Generación Y.
lvi Miriam Leiva, «La 'Generación Y' cubana», El País, 30 de novembro de 2008.
lviiYoani Sánchez, «Premios», op. cit.
lviii Ibid.
lix Ibid.
lx El País, «Una de las voces críticas del régimen cubano, mejor blog del año», 28 de novembro de 2008.
lxi Yoani Sánchez, Generación Y.
lxii Yoani Sánchez, «Respuestas de Barack Obama a Yoani Sánchez», Generación Y, 20 de novembro de 2009.(Ouvir entrevista Click to play )
lxiii Yoani Sánchez, «Premios», op. cit.
Fonte: Rebelión



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