Cuba: fim da "sociedade igualitária", fim dos “sacrifícios” e mudança de tática na luta
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Cuba: fim da "sociedade igualitária", fim dos “sacrifícios” e mudança de tática na luta


Resumindo: se os "predestinados" a serem os de "cima" no futuro, estão pautando suas políticas em pautas especificas e individuais, portanto cabem também aqueles que serão os de "baixo", na visão desses primeiros, fazerem o mesmo.


Por Aloísio Silva no Diário Liberdade 

Ao contrário de alguns setores da esquerda, inclusive aqueles que defendem o tal "socialismo democrático" para o Brasil, que acham que Cuba é uma ditadura ou é uma "ditadura" - devido ao "estado de sítio" que o país vive devido ao bloqueio e a pressão dos ianques -, sempre defendi que o regime cubano é democrático.

E é uma democracia peculiar. E é, também, um regime socialista. No entanto, até pelas condições que temos na ilha, principalmente econômicas e naturais, Cuba não passa de um estado operário burocratizado. Em outras palavras: a construção do socialismo se encontra degenerada. Ou seja, o socialismo democrático cubano foi até certo estágio e parou, em algumas questões, até retrocedeu. Agora tenta recuperar elementos, que foram descartados antes, com o processo chamado de "atualização do socialismo".

No entanto, estes elementos vão fortalecer valores e crenças liberais, individualistas e burgueses e enfraquecer os socialistas e os igualitários. Pior: em curta duração a atualização é pro mercado, apesar de que em longa duração o objetivo é ampliar o estado de bem estar social cubano. Ou seja, levar o socialismo cubano a um estágio mais avançado.

Por mais que negamos, em Cuba existe uma "burocracia" que domina os meios de produção e que controla o campo político, mas mesmo assim Cuba não deve nada em matéria de democracia e cidadania para os países capitalistas, dito democráticos. Até por que os países democráticos na era da globalização têm seus meios de produção dominados pelo mesmo grupo que dominam a política, ou seja, os capitalistas. Políticos, quando não são do campo da economia, são meros representantes destes nas instituições ditas de representatividade do povo.

Está certo que em Cuba alguns direitos individuais eram, e ainda são limitados, mas no coletivo Cuba é uma democracia com igualdade social tendo como base deste processo a representatividade popular.

Em teoria, Cuba é democracia direta. Mas na prática é uma democracia representativa. Se alguns direitos individuais não existem, no geral existe um estado de bem estar social que iguala em direitos toda população.

Mas quando as desigualdades econômicas e sociais avançam em Cuba e o mercado ganha força, inclusive entre o senso comum cubano, como saída para resolver o problema estrutural econômico ai as coisas mudam de figura.

Sacrificar alguns de seus direitos por um bem comum da nação é válido apenas quando realmente todos, principalmente os que têm certos "privilégios" na condução do processo estão comprometidos. Mas quando os altos oficiais cubanos, grupo social que tem poder sobre estatais e influência sobre instituições políticas e ideológicas como o Conselho de Estado e o Partido Comunista, estão mais preocupados em crescer economicamente - não levando em conta a contra partida social deste processo - e em privatizar as empresas estatais - com a desculpa de que isso é necessário, pois apenas o "mercado socialista" é a solução para que os salários, muitos baixos hoje em dia, subam, - é hora das outras categorias e dos outros grupos sociais (re) agirem na mesma linha e com uma intensidade muito maior que os condutores.

É hora das categorias lutarem por mais direitos, dos sindicatos e das organizações sociais realmente lutarem por pautas especificas, além das nacionais. Isso não é ser contrarrevoluinário ou ignorar a questão nacional. Mas sim fortalecer a sociedade como um todo e contribuir no processo de atualização do socialismo.

Resumindo: se os "predestinados" a serem os de "cima" no futuro, estão pautando suas políticas em pautas especificas e individuais, portanto cabem também aqueles que serão os de "baixo", na visão desses primeiros, fazerem o mesmo.

O momento exige que a luta do povo cubano, com esse tipo de atualização do socialismo, seja independente em partes à luta dos dirigentes do estado. Isso deve ser um pré-requisito para que o povo cubano não deixe que Cuba perca esta batalha conjuntural para o mercado e os "novos burgueses" e concretize, não repetindo os erros do passado, a vitória estrutural do socialismo.

Aloísio Silva, graduado em história pela UFSJ, professor da rede pública do estado de Minas Gerais e militante do movimento brasileiro de solidariedade a Cuba.

Twitter: @aloisiofcs



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