Por Jean Friedman Rudovsky
No Centro Nacional de Prognósticos do Instituto de Meteorologia de Cuba, acima do centro velho de Havana, meteorologistas observam imagens de satélite ao lado de um mapa dos Estados Unidos em grande escala. Eles monitoram diariamente o clima da região, mas ficam especialmente atentos após o início da estação de furacões. Segundo José Rubiera, diretor do centro, quase todos os furacões que atingem o sul dos Estados Unidos passam antes por Cuba.
- O furacão que passa por Cuba não precisa de visto para entrar nos Estados Unidos - afirmou.
Esse destino compartilhado abriu espaço para um acordo raro entre as duas nações, que não possuem relações bilaterais há mais de 50 anos. Suas agências meteorológicas compartilham dados de satélites, analisam radares em conjunto e colaboram para a previsão de tempestades.
Quando uma tempestade se aproxima, "ligamos para o Centro Nacional de Prognósticos, ou eles nos ligam, dependendo de quem chegar ao telefone primeiro", afirmou Lixion Avila, especialista sênior do Centro Nacional de Furacões do governos dos Estados Unidos, chamando Cuba de "um dos parceiros mais valiosos dos Estados Unidos na meteorologia".
- Cuba tem um histórico longo de previsões excelentes, com inúmeros dados registrados - afirma.
Segundo o secretário internacional da Academia Nacional de Ciências, Michael T. Clegg, "a ameaça à população humana causada pelas tempestades é levada suficientemente a sério para que a cooperação se torne desejável".
- Cuba faz uma gestão muito boa dos furacões. Devíamos aprender com eles - diz Russel L. Honoré, tenente general aposentado, a cargo do socorro pós-Katrina, o furacão que devastou Nova Orleans em 2005. Desde então, ele se tornou especialista em preparação para desastres e viajou três vezes para Cuba nos últimos anos.
Cuba é frequentemente afetada por furacões de categoria 4 e 5, mas sofre poucas perdas. O Centro de Políticas Internacionais, um grupo de pesquisa com sede em Washington, afirmou que há 15 vezes mais chances de uma pessoa morrer em decorrência de um furacão nos Estados Unidos do que em Cuba.
No ano passado, a ilha sofreu grandes danos causados pelo Furacão Sandy, o segundo maior da história cubana. Antes de chegar aos Estados Unidos, o Sandy devastou Santiago de Cuba, a segunda maior cidade do país. Onze pessoas morreram e o presidente Raúl Castro afirmou que Santiago parecia uma "cidade bombardeada".
Metade dos edifícios foi danificada, e cerca de 16 mil imóveis foram destruídos. Houve pequenos surtos de dengue e cólera.
- Cuba possui um número enorme de imóveis deteriorados, incapazes de resistir a desastres naturais - observa Ricardo Mena, oficial da ONU responsável pela redução do risco de desastres nas Américas. Ele acrescentou que, embora hospitais precisem ser reconstruídos, "isso custa caro, e o país não tem os recursos necessários para fazê-lo". Ainda assim ele, e outros analistas enfatizam que Cuba teria sofrido muito mais se não tivesse um sistema de preparação tão bem ensaiado.
O processo começa com os jovens. Alunos de primeiro grau praticam a evacuação, enquanto os secundaristas monitoram bairros para identificar árvores fracas e outros perigos. Rubiera é o único previsor de furacões do país, adorado pelos cubanos por sua postura calma e confiante.
- Confiamos em Rubiera porque ele sabe do que está falando - afirma Camilo Guara, morador de Havana.
No caso de tempestades, os líderes de cada instituição – escolas, hospitais, hotéis – passam a fazer parte da Defesa Civil Cubana e se tornam responsáveis pelo bem-estar das pessoas ao seu redor. Controles estatais rígidos permitem que Cuba ordene evacuações, mobilize-se rapidamente e coloque o rosto de Rubiera em todas as telas de TV do país.
- Cuba é um modelo que não poderia ser plenamente replicado em nenhum outro lugar - considera Mena.
Em Pinar del Río, a província mais vulnerável de Cuba, o governo lança mão de grandes brigadas na preparação para desastres.
- Se você não tiver para onde ir, o Estado fornece abrigos com comida, água potável e médicos - narra María Fajardo, habitante local, embora muitos evacuados prefiram ficar na casa de amigos e familiares, de acordo com a organização de ajuda internacional Oxfam.
- Aprendemos a tomar conta de nós mesmos para não dependermos exclusivamente do Estado - diz Yesi Mejía, havanesa de 43 anos.
Nesse sentido, eles não são diferentes de quem sobrevive aos furacões nos Estados Unidos. Barbara Morita, socorrista californiana que visitou Cuba para aprender mais sobre a preparação contra desastres, conta que, durante o Furacão Katrina, "muitas pessoas disseram que não estariam vivas, não fosse pela ajuda de um vizinho".
- Talvez fosse possível salvar mais gente, se estivéssemos mais bem preparados - conclui Morita.
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