Cuba
Cuba e a bandeira contra o imperialismo na visão de Niemeyer
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Obra de Niemeyer em Havana. |
Maria do Carmo Luiz Caldas Leite, via Portal Fundação Maurício Grabois
“Niemeyer odia por igual al capitalismo y al ángulo recto. Contra el imperialismo, no es mucho lo que puede hacer. Pero contra el ángulo recto, opresor del espacio, triunfa su arquitectura libre y sensual y leve como las nubes.” Eduardo Galeano
Na Praça Central da Universidade de Ciências Informáticas em La Habana, a especial amizade entre Oscar Niemeyer e a Revolução Cubana está materializada em formas ovaladas de aço, compondo um monumento contra o bloqueio.
A obra, que carrega a densidade do gênio, simboliza a resistência ao imperialismo esculpido como Golias – o monstro ameaçador –, frente a David, alçando sua bandeira, sempre altiva e determinada. Um dos derradeiros trabalhos do arquiteto reflete justamente os laços fraternos compartilhados com Fidel e a solidariedade às lutas do povo cubano, o mesmo que sempre soube transformar os reveses em vitórias, segundo Niemeyer.
Esta universidade apresenta matrículas superiores a 5 mil estudantes de graduação procedentes de todas as regiões da Ilha e a quantidade de trabalhadores supera os 2 mil, distribuídos em diferentes funções. Conta com um extenso conjunto de áreas vinculadas às atividades docentes, de pesquisas aplicadas, investigativas e de serviços à comunidade. O centro faz parte do Programa Batalha de Ideias, um movimento de massificação da cultura e da educação, desencadeado em dezembro de 1999. As ações do projeto, que busca oferecer uma cultura geral e integral a todos os cubanos, incluem estratégias para eliminar as desigualdades, que possam ter sido geradas como consequência do período de crise deflagrado pelo desmoronamento do antigo campo do Leste Europeu e da extinção da URSS, dar prioridade às ações voltadas aos setores vulneráveis da população, obter uma sociedade sem desempregados e sem presos e garantir não somente igualdade de oportunidades, mas também de possibilidades. Dentro dessas circunstâncias surgiu a ideia de converter o território ocupado pela antiga Base de Lourdes em universidade, seguindo a tradição cubana de converter quartéis em escolas, vigente desde o triunfo revolucionário de 1º de janeiro de 1959.
Na busca de um discurso único, na clara intenção de difundir a ideia segundo a qual as formas atuais de globalização seriam irreversíveis, junto a Fidel, Niemeyer foi contabilizado como um dos “últimos comunistas” do mundo. A agenda de prioridades, ditadas pela lógica econômica desigual e excludente, parece não coincidir com a universalização dos valores éticos e do pleno exercício da cidadania, que emanam do legado de Niemeyer.
Há algum tempo, quando perguntaram como gostaria de ser lembrado, Niemeyer disse que desejaria em sua lápide uma frase simples: “Brasileiro, arquiteto que viveu entre amigos, crendo no futuro”.
O imperialismo não perdoa nem Cuba nem Fidel, mas terá num belo dia que se renderá à perfeição dos edifícios, monumentos, esculturas, escolas e igrejas, parte marcante das paisagens de muitos países do mundo, como Estados Unidos, França, Espanha, Alemanha, Itália e Argélia, dentre outros. Resta-nos a esperança, alimentada pela crença em um mundo melhor, pleno de beleza e solidariedade, a grande lição de Niemeyer.
Maria do Carmo Luiz Caldas Leite é professora de Física, Mestre em Educação e membro da direção do PCdoB de Santos.
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