Estreante na Cúpula das Américas, Cuba aproveitou a sétima edição do evento - que ocorreu na Cidade do Panamá - para tentar atrair investimentos de grandes empresas e promover as oportunidades econômicas que se abrem com sua reaproximação com os Estados Unidos.
Chefiada pelo ministro cubano do Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro (ex-embaixador de Cuba no Brasil), Rodrigo Malmierca, a ofensiva teve como palco a cúpula de empresários que antecedeu o encontro entre chefes de Estado, no sábado.
Em discurso a presidentes de empresas no hotel Riu Plaza Panamá na última quinta-feira (10), Malmiera disse que Cuba vive uma "nova fase" no cenário econômico mundial.
"Nesta nova etapa, ampliamos nossa visão sobre o papel do investimento estrangeiro, reconhecendo-o como um elemento ativo e fundamental para o crescimento de determinados setores e atividades econômicas", afirmou o ministro.
Segundo ele, Cuba precisa de US$ 2,5 bilhões de investimentos estrangeiros para estimular um crescimento "que resulte em desenvolvimento, prosperidade e sustentabilidade para o nosso projeto socialista."
Para atrair esses recursos, ele diz que o Parlamento cubano aprovou recentemente um novo marco regulatório "que oferece garantias e incentivos aos investidores estrangeiros, estabelece regras claras e maior transparência".
O ministro afirmou ainda que delegações de empresários americanos que visitaram Cuba recentemente constataram as possibilidades criadas pela reaproximação com os Estados Unidos.
TURISMO
Malmiera falou à frente de uma projeção da praça da Catedral, uma das principais atrações turísticas de Havana. Ele apresentou o turismo como um dos setores mais promissores da economia do país e defendeu que os Estados Unidos ponham fim a "proibições absurdas", como a limitação a viagens de americanos a Cuba.
O governo cubano estima que, com o fim das restrições, mais de 1 milhão de americanos passem a visitar a ilha caribenha anualmente.
Durante a fala do ministro, o salão tinha a maioria de suas centenas de cadeiras ocupadas.
Terminado o discurso, ele recebeu aplausos discretos e, diferentemente de outras autoridades que haviam discursado antes, deixou o palco sem responder a perguntas.
A presença do ministro frustrou alguns empresários presentes. Até a véspera do evento, especulava-se que o presidente Raúl Castro pudesse falar em seu lugar.
Mesmo assim, a mensagem ressoou bem entre o público. Para José Antonio Llorente, sócio-fundador da Llorente & Cuenca - consultoria de comunicação presente em 11 países e que tem entre seus clientes Repsol e Toyota - o discurso foi "muito construtivo".
"Não foi uma fala beligerante, como estávamos acostumados; ele não veio aqui vender a revolução", diz Llorente.
INTERESSE
Segundo ele, alguns de seus clientes estão muito interessados em fazer negócios em Cuba.
"Poucos mercados no mundo são tão fechados como Cuba, e quando uma companhia já está presente no mundo todo, essa é uma das melhores possibilidades para crescer".
Resta saber, diz ele, se "os fatos darão continuidade às palavras", ou seja, se Cuba de fato facilitará a vida dos investidores.
Carlos Cerdas, presidente da construtora costa-riquenha Meco, disse ter interesse em investir em Cuba (sua companhia já atua na Colômbia e em boa parte da América Central), mas afirma que analisará as novas condições oferecidas.
Ele se diz cauteloso com as regras fiscais, laborais e para introdução de máquinas em Cuba.
Presidente do Business Council of Latin America (Ceal), Ingo Plöger diz que há dois setores que oferecem oportunidades mais imediatas a investidores estrangeiros: turismo e a indústria de alimentos (Cuba importa boa parte de sua comida).
Outra aposta cubana que pode se mostrar vantajosa a empresários, segundo ele, é o complexo industrial do porto de Mariel. A reforma do porto, financiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foi executada pela empreiteira brasileira Odebrecht.
O Brasil, no entanto, tem tido participação discreta na cúpula dos empresários. Poucas companhias nacionais estavam presentes durante a fala do ministro, e apenas duas foram convidadas a integrar mesas de debates ao longo do evento: a Odebrecht e a empresa de tecnologia Stefanini.
OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS
Na manhã de quinta-feira, a delegação cubana espalhou pelos corredores do hotel uma série de folhetos e catálogos listando oportunidades de negócio em Cuba.
Em reunião privada após o discurso, Malmierca entregou os catálogos a empresários americanos e representantes da Câmara de Comércio dos Estados Unidos.
Participantes do encontro disseram que ele serviu para que cubanos e americanos trocassem informações sobre o estado das relações entre os países, impulsionadas pelo anúncio da retomada dos laços diplomáticos entre Havana e Washington em dezembro.
Apesar da reaproximação, o principal obstáculo entre os dois países segue em vigor, o bloqueio econômico americano à ilha.
O presidente americano, Barack Obama, já defendeu o fim do bloqueio, mas a medida depende do Congresso, hoje dominado pela oposição.
Em seu discurso aos empresários, Malmierca cobrou os legisladores americanos a derrubar o bloqueio e exortou Obama a usar sua autoridade presidencial para "modificar outros aspectos do bloqueio que não requerem aprovação do Congresso".
Os temas voltaram a ser tratados entre cubanos e americanos até o fim da cúpula. Na noite de quinta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, se encontrou com o ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Rodriguez, na reunião de mais alto nível entre representantes dos dois países em mais de meio século.
No sábado houve um encontro entre os líderes de Cuba e EUA - Raúl Castro e Barack Obama - durante um intervalo das negociações entre os presidentes dos países que participaram da cúpula.
Retirado (com alterações) de BBC Brasil