Cuba
Jornalista cubano sobre Yoani Sánchez: "instrumento da política dos EUA contra Cuba"
Jornalista cubano Iroel Sánchez diz que os poucos que a conhecem no país "a chamam de mercenária, argumentando que serve, em troca de dinheiro e privilégio, à agressão dos Estados Unidos contra o país onde nasceu"; relato direto de Havana do correspondente Alexandre Haubrich, especial para o 247.
Por Alexandre Haubrich, direto de Havana, especial para o 247
Em visita ao Brasil, a blogueira cubana Yoani Sánchez tem enfrentado protestos por onde passa. Já aconteceu na Bahia, já aconteceu no Rio Grande do Norte, e em Brasília, onde desembarcou no início da tarde desta quarta-feira, houve bate-boca ao ser recebida no Congresso. Alguns parlamentares reclamavam de sua presença e da interrupção dos trabalhos na Casa. Yoani, pouco conhecida em Cuba, é a principal fonte cubana de toda a mídia internacional empenhada em desconstruir as conquistas da Revolução. Não é diferente no Brasil.
Em uma das fotos referentes aos protestos, Yoani é escoltada por Demétrio Magnoli, articulista dos Instituto Millenium, organização que tem como mantenedores figuras como Armínio Fraga, João Roberto Marinho, Jorge Gerdau, Nelson Sirotsky e Roberto Civita e, entre as instituições parceiras, o Movimento Endireita Brasil. Entre os "especialistas" vinculados ao Instituto Millenium, uma das poucas estrangeiras é justamente Yoani.
Direita se mobiliza em defesa de Yoani
Em Feira de Santana, na Bahia, o prefeito da cidade, do DEM, pediu ajuda da Polícia Militar para garantir a segurança da cubana. Ao mesmo tempo, o PP e o PSDB convidaram-na nesta terça-feira à Câmara de Deputados. Na segunda-feira, o senador do PSDB Álvaro Dias baseou-se em texto da revista Veja para pedir esclarecimentos ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e ao embaixador de Cuba, Carlos Zamora Rodrigues, sobre suposto dossiê sobre Yoani que teria sido elaborado antes da visita.
A blogueira cubana, que viveu na Suíça durante dois anos antes de voltar a Cuba, criou em 2007 o blog Generación Y, onde tece críticas ao governo cubano, especialmente a partir de problemas cotidianos enfrentados na ilha. Segundo documentos divulgados pelo Wikileaks, porém, a blogueira mantém relações estreitas com o Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, espécie de embaixada estadunidense com algumas limitações diplomáticas. Conforme relata, de Cuba, o jornalista Iroel Sánchez, que mantém o blog La Pupila Insomne e colabora com o EcuRed, espécie de Wikipédia cubano, "Yoani Sánchez aparece 124 vezes em Wikileaks, é o personagem colaborador do Escritório dos EUA que mais vezes aparece no Wikileaks".
Em Cuba, uma desconhecida
Iroel garante que em Cuba Yoani não é conhecida, para o que baseia-se em documentos do Wikileaks: "Há um telegrama que deu a conhecer o Wikileaks, trocado entre diplomatas estadunidenses em Cuba. Há uma pesquisa que fez o Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, onde perguntam pelo conhecimento que tem a população cubana sobre alguns dos personagens que têm vínculos com esse Escritório. Uma pesquisa feita com pessoas que vão ali pedir visto para ir aos EUA. E mesmo assim só 2% conheceram a Yoani Sanchez". O jornalista diz que os poucos que a conhecem "a chamam de mercenária, argumentando que serve, em troca de dinheiro e privilégio, à agressão dos Estados Unidos contra o país onde nasceu". É o que ele próprio pensa: "ela é um instrumento da política dos Estados Unidos contra Cuba", diz.
Elaine, que constantemente tece críticas ao governo, incomoda-se com o espaço dado a Yoani: "já não penso nada sobre ela, ou seja, me é tão, mas tão indiferente que me incomoda a centralidade que meu país e meu governo dão às coisas que ela diz ou faz". Mantendo a crítica, Elaine não concorda com a postura assumida por Yoani: "é meu país, o que vou fazer? Trato de mudá-lo, não de ir à embaixada dos Estados Unidos. É uma atitude diferente frente à vida", explica.
O desconhecimento do povo com relação a Yoani não se deve, ao contrário do que dizem os admiradores da blogueira, a um suposto bloqueio governamental à internet. O acesso em Cuba é dificultado pela proibição, pelos EUA, de utilização por Cuba dos cabos submarinos que abastecem a região com sinal de internet. Mesmo assim alguns cubanos conseguem utilizar a rede – graças, inclusive, à parceria com a Venezuela que tem levado novos cabos à ilha – enquanto outros recebem informações via intranet. Elaine Diaz, jornalista cubana e professora da Universidade de Havana, garante: "os cubanos que têm acesso à internet (não à intranet, um tipo de internet para acessar sites de domínio .cu, unicamente) podem, sim, acessar o seu site atualmente".
Iroel fala no mesmo sentido: "Seu blog não está bloqueado em Cuba". E explica a atuação de Yoani: "Ela não escreve para os cubanos. Ela escreve para os grandes jornais que lê a classe média no mundo, no Brasil, na Espanha, no México, na Argentina. Ela disse que os cubanos passam fome, porque não há tangerina no mercado. Bom, é verdade, não há tangerinas no mercado, mas isso não significa que estamos passando fome. Ou diz que estragou o elevador do edifício. Bom, isso não diz nada para uma favela em Buenos Aires, não diz nada para o povo mapuche. Ela não escreve para 80% do povo latino-americano. Escreve para a grande mídia que exclui no Brasil, na Argentina...É uma aliada dos que excluem as maiorias. É fabricada e paga pela maquinaria que exclui a opinião da maioria".
Os protestos no Brasil
Os meios de comunicação estatais, segundo Elaine, não têm feito qualquer cobertura da vinda da blogueira ao Brasil. A jornalista tem se informado a respeito pela internet, pelas redes sociais. E tem gostado do que tem visto: "Aprecio muito o que está fazendo a UJS no Brasil", comemora, e completa: "Estive duas vezes no Brasil, e só sinto agradecimento pelo infinito carinho com que me receberam". Para Iroel, os protestos "demonstram que apesar do favor que lhe faz a grande mídia, ela (Yoani) carece de popularidade no Brasil, são mais os que a rechaçam do que os que a aplaudem. Algo muito diferente do que acontece quando líderes políticos da Revolução Cubana vistam o Brasil".
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