Che Guevara e os mortos que nunca morrem
Cuba

Che Guevara e os mortos que nunca morrem


Diz Eduardo Galeano, que conheceu o Che Guevara: ele foi um homem que disse exatamente o que pensava, e que viveu exatamente o que dizia. Assim seria ele hoje. Já não há tantos homens talhados nessa madeira. Aliás, já não há tanto dessa madeira no mundo. Mas há os mortos que nunca morrem. Como o Che. E, dos mortos que nunca morrem, é preciso honrar a memória, merecer seu legado, saber entendê-lo. Não nas camisetas: nos sonhos, nas esperanças, nas certezas. Para que eles não morram jamais. O artigo de 2011 é de Eric Nepomuceno.


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No dia em que executaram o Che Guevara em La Higuera, uma aldeola perdida nos confins da Bolívia, Julio Cortázar – que na época trabalhava como tradutor na Unesco – estava em Argel. Naquele tempo – 9 de outubro de 1967 – as notícias demoravam muito mais que hoje para andar pelo mundo, e mais ainda para ir de La Higuera a Argel. 


Vinte dias depois, já de volta a Paris, onde vivia, Cortázar escreveu uma carta ao poeta cubano Roberto Fernández Retamar contando o que sentia: “Deixei os dias passarem como num pesadelo, comprando um jornal atrás do outro, sem querer me convencer, olhando essas fotos que todos nós olhamos, lendo as mesmas palavras e entrando, uma hora atrás da outra, no mais duro conformismo... A verdade é que escrever hoje, e diante disso, me parece a mais banal das artes, uma espécie de refúgio, de quase dissimulação, a substituição do insubstituível. O Che morreu, e não me resta mais do que o silêncio”.

Mas escreveu: 

Yo tuve un hermano
que iba por los montes
mientras yo dormía.
Lo quise a mi modo,
le tomé su voz
libre como el agua,
caminé de a ratos
cerca de su sombra.
No nos vimos nunca
pero no importaba,
mi hermano despierto
mientras yo dormía,
mi hermano mostrándome
detrás de la noche
su estrella elegida.


A ansiedade de Cortázar, a angústia de saber que não havia outra saída a não ser aceitar a verdade, a neblina do pesadelo do qual ninguém conseguia despertar e sair, tudo isso se repetiu, naquele 9 de outubro de 1967, por gente espalhada pelo mundo afora – gente que, como ele, nunca havia conhecido o Che.

Passados exatos 44 anos da tarde em que o Che foi morto, o que me vem à memória são as palavras de Cortázar, o poema que recordo em sua voz grave e definitiva: “Eu tive um irmão, não nos encontramos nunca mas não importava, meu irmão desperto enquanto eu dormia, meu irmão me mostrando atrás da noite sua estrela escolhida”.

No dia anterior, 8 de outubro de 1967, um Ernesto Guevara magro, maltratado, isolado do mundo e da vida, com uma perna ferida por uma bala e carregando uma arma travada, se rendeu. Parecia um mendigo, um peregrino dos próprios sonhos, estava magro, a magreza estranha dos místicos e dos desamparados. Foi levado para um casebre onde funcionava a escola rural de La Higuera. No dia seguinte foi interrogado. Primeiro, por um tenente boliviano chamado Andrés Selich. Depois, por um coronel, também boliviano, chamado Joaquín Zenteno Anaya, e por um cubano chamado Félix Rodríguez, agente da CIA. Veio, então, a ordem final: o general René Barrientos, presidente da Bolívia, mandou liquidar o assunto. 

O escolhido para executá-la foi um soldadinho chamado Mario Terán. A instrução final: não atirar no rosto. Só do pescoço para baixo. Primeiro o soldadinho acertou braços e pernas do Che. Depois, o peito. O último dos onze disparos foi dado à uma e dez da tarde daquela segunda-feira, 9 de outubro de 1967. Quatro meses e 16 dias antes, o Che havia cumprido 39 anos de idade. Sua última imagem: o corpo magro, estendido no tanque de lavar roupa de um casebre miserável de uma aldeola miserável de um país miserável da América Latina. Seu rosto definitivo, seus olhos abertos – olhando para um futuro que ele sonhou, mas não veria, olhando para cada um de nós. Seus olhos abertos para sempre.

Quarenta e quatro anos depois daquela segunda-feira, o homem novo sonhado por ele não aconteceu. Suas idéias teriam cabida no mundo de hoje? Como ele veria o que aconteceu e acontece? O que teria sido dele ao saber que se transformou numa espécie de ícone de sonhos românticos que perderam seu lugar? Haveria lugar para o Che Guevara nesse mundo que parece se esfarelar, mas ainda assim persiste, insiste em acreditar num futuro de justiça e harmonia? Um lugar para ele nesses tempos de avareza, cobiça, egoísmo? 

Deveria haver. Deve haver. O Che virou um ícone banalizado, um rosto belo estampado em camisetas. Mas ele saberia, ele sabe, que foi muito mais do que isso. O que havia, o que há por trás desse rosto? Essa, a pergunta que prevalece. 

O Che viveu uma vida breve. Passaram-se mais anos da sua morte do que os anos da vida que coube a ele viver. E a pergunta continua, persistente e teimosa como ele soube ser. Como seria o Che Guevara nesses nossos dias de espanto? Pois teria sabido mudar algumas idéias sem mudar um milímetro de seus princípios. 

Diz Eduardo Galeano, que conheceu o Che Guevara: ele foi um homem que disse exatamente o que pensava, e que viveu exatamente o que dizia. 

Assim seria ele hoje.

Já não há tantos homens talhados nessa madeira. Aliás, já não há tanto dessa madeira no mundo. Mas há os mortos que nunca morrem. Como o Che. 

E, dos mortos que nunca morrem, é preciso honrar a memória, merecer seu legado, saber entendê-lo. Não nas camisetas: nos sonhos, nas esperanças, nas certezas. Para que eles não morram jamais. Como o Che.
 
Ernesto 
"Che" Guevara de la Serna  
(Rosário,Argentina: 14/ junho/1928- La Higuera,Bolívia: 9/10/1967) 
Fotógrafo, Jornalista, Médico, Comandante da Revolução Cubana.

Aleida March,  Che e seus quatro filhos     

Nós mulheres, apaixonadas,  rendemos, hoje,  uma homenagem a Aleida March, pelo seu grande amor pelo Che, que tanto nos inspira na luta revolucionária, neste mundo de intensos conflitos e desigualdade social. Viver e reagir, com sua prole,  após a execução de seu grande amor, marcado por despedidas, ausências e ansiedades, durante 8 anos, não foi tarefa fácil, para Aleida, que sabia dos riscos da morte prematura de seu companheiro, nos campos de batalha.


CHE escolheu o caminho da guerra,  com o objetivo da conquista da VICTÓRIA SIEMPRE, pela libertação dos pobres e oprimidos de todo o mundo.

É grande, também,  a paixão de CHE por Aleida, que podemos compartilhar através dessa poesia do Guerrilheiro Latino-Americano, que nasceu na Argentina, lutou em Cuba e morreu na Bolívia:


" Não obstante,
no labirinto mais fundo do caracol taciturno
se unem e repelem os pólos do meu espírito:
tu e TODOS.

Os Todos me exigem a entrega total,
que a minha solitária sombra escureça o caminho!
Mas, sem burlar as normas do amor sublimado,
te guardo escondida no meu alforge de viagem.

(Te levo no meu alforge de viajante insaciável
como o pão nosso e todos os dias.)

Saio para edificar as primaveras de sangue e argamassa
e deixo, no vão da minha ausência,
este beijo sem domicílio conhecido.
Mas não me anunciaram o lugar reservado
no desfile triunfal da vitória
e a vereda que conduz ao meu caminho
está aureolada de sombras agourentas.

Se me destinam ao escuro sólio dos alicerces,
guarda-o no arquivo nebuloso da lembrança;
usa-o em noites de lágrimas e sonhos...

Adeus , minha única,
não temas ante a fome dos lobos
nem no frio estépico da ausência;
do lado do coração te levo
e juntos seguiremos até que o caminho se desvaneça.." CHE

(do livro  de memórias de Aleida March : EVOCAÇÃO - Minha vida ao lado do CHE) Editora Record ,2009 - RJ

VIVA O CHE!
VIVA A LUTA COM TODOS E PARA O BEM DE TODOS!
VIVA O AMOR  DE HOMENS E MULHERES PELA HUMANIDADE!!!

Maria José
Projeto Nossa América - Memória e Educação




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