Crônica de Cuba: aqui não passa cartão
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Crônica de Cuba: aqui não passa cartão



Por Amanda Cotrim, especial para Caros Amigos

Quando alguém se prepara para realizar a primeira viagem internacional, aos 24 anos de idade, nunca pensa que vai ficar doente e precisará recorrer ao hospital do destino escolhido. Em fevereiro de 2012, minha primeira viagem internacional foi para Cuba (e não podia ser diferente).

Na última semana de férias, decidi conhecer a praia de Santa Maria, ao lado Leste da capital Havana. Os ventos na praia eram fortes. Alguns grãos de areia se alojaram no meu olho esquerdo e o inflamou: peguei conjuntivite, pela primeira vez.

Para minha sorte, conheci na viagem um jovem brasileiro, estudante de medicina em Cuba. Pegamos um táxi em Centro Havana até o Hospital Docente Clínico-Quirúrgico “Joaquín Albarrán”.

Ao entrar no hospital, veio o primeiro choque de realidade: não havia nenhum doente no corredor esperando pelo atendimento. Ele, também não estava cheio. Mais tarde soube que somente os casos graves são encaminhados ao hospital. A maioria do atendimento, 70%, é realizado pelos médicos de família.

- Espere aqui - me disse a enfermeira. Sentei-me na sala de espera, junto com mais cinco pacientes; todos idosos.

Depois de 10 minutos:

- Amanda! - acentuando o “mân”, exclamou a médica.

- Olá. Sou Amanda brasileira e estou com conjuntivite entrou areia no meu olho na praia de Santa Maria estou assim há três dias - disse assim mesmo, sem dar pausa.

A oftalmologista cubana me examinou e fez uma cara como quem diz: “Essa inflamação está forte”.

- Mira. Sua conjuntivite é infecciosa, por causa do contato do olho com o grão de areia.

Continuou...

- Você deve tomar esse remédio, caso sinta dor, e fazer compressa com soro. Aos poucos, o seu olho vai melhorar - me orientou a médica.

Comprei os remédios (todos subsidiados pelo Estado cubano) com dinheiro, porque em Cuba raros são os estabelecimentos que aceitam cartão. Mas o problema é que doía muito. Senti que precisava de uma injeção que estancasse aquela sensação! (Creio que estou totalmente mergulhada na cultura do remédio - a indústria farmacêutica agradece).

Dois dias depois voltei ao Brasil, no dia 3 de março. Demoraria mais uns dias para minha inflamação ser abduzida pela lógica do sistema de tratamento cubano.

Já no meu país, fui procurar um oftalmologista que atendesse aos sábados. Na verdade, em hospitais maiores e públicos de Campinas (SP) não havia a especialidade para emergência; foi preciso procurar o Hospital Penindo Burnier, especialista no assunto. Ao chegar lá, me indignei:

- Desculpe, moça, mas aqui não atende mais o SUS - informou a recepcionista.

- E aonde eu vou poder procurar um oftalmologista? Meu olho está totalmente infeccionado! - nessa hora, a dor era intensa, já que não havia tomado o remédio naquela manhã.

- Olha, a consulta particular aqui no Penido está 150 reais.

Não tinha aonde recorrer naquele sábado ensolarado. Meu olho esquerdo, que estava inflamado, ardeu; o direito chorou. Impossível não lembrar de como fui bem tratada em Cuba. Parcelei no cartão a minha saúde ocular.

Amanda Cotrim é jornalista brasileira e estuda cinema em Cuba.



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