Cuba
Uma visão de Cuba em 2030
Durante as próximas décadas, o país estará vivendo um dos períodos mais complexos em sua composição demográfica, segundo descreve um relatório do Escritório Nacional de Estatísticas e Informação
Fenômenos demográficos tão complexos como a fecundidade, a mortalidade e a migração servem de ponto de partida para uma análise apresentada pelo Escritório Nacional de Estatísticas e Informação (ONEI), no qual se projeta uma espécie de olhada ao futuro de Cuba, em 2030, tendo presentes as tendências e situações experimentadas pelos povoadores da Ilha, nos últimos anos.
Assim, por exemplo, um dos resultados mais preocupantes que salta aos olhos é que de 1,9 milhão de pessoas de 60 anos e mais com que contava o país, em 2010, se chegará a 3,4 milhões, em 2030, o que significa uma notável sobrecarga para a Previdência Social, o Sistema de Saúde e a disponibilidade de força de trabalho.
Isso se manifesta em que o chamado coeficiente de carga ou de dependência, que expressa a forma em que incide a população em idades inativas sobre a que está na idade ativa, é atualmente favorável, e assim se manterá até 2020, mas em diante mudará a tendência, aceleradamente e de maneira negativa.
De acordo com a cifra apresentada, o número de pessoas em idades ativas, entre 15 e 59 anos, diminuirá em mais de um milhão de pessoas para esse período, uma das causas fundamentais da aprovação, por parte do Parlamento cubano, duma ampliação da faixa de idade de trabalho, até 65 anos para os homens e 60 para as mulheres.
Segundo demonstram os resultados do ONEI, em 20 anos Cuba estará chegando a 31% de sua população com 60 anos e mais, sendo nesse momento o país mais envelhecido da América Latina e o Caribe o que é consequência, entre outras causas, do aumento na esperança de vida dos cubanos.
Dados das Nações Unidas corroboram que no ano 2050, Cuba se encontraria entre os 11 países mais envelhecidos do mundo, com 38% de sua população na faixa dessas idades.
QUESTÃO DE TEMPO
Embora o envelhecimento seja o rosto mais visível da situação que se aproxima para Cuba em poucas décadas, uma das origens do mesmo é a redução substancial dos níveis de fecundidade.
De acordo com estudos apresentados pelo ONEI, em Cuba se registrará, para 2030, um leve aumento que levaria a taxa global de fecundidade (TGF) de 1,50 para 1,62 filhos por mulher, nos próximos 20 anos.
Esta hipótese acerca do comportamento da fecundidade para cada província se desenvolveu, tendo presente a evolução perspectiva do indicador da taxa global de fecundidade.
Para o primeiro quinquênio da projeção, contudo, se levou em conta o valor médio de tal taxa em 2003–2007. Neste caso, não se considerou a tendência da variável, por não ter uma clara definição.
Entretanto, consideraram-se incrementos discretos até atingir a taxa de 1,62 filhos por mulher, nos próximos 20 anos, o que poderia ser mais possível de atingir, de acordo com as transformações no contexto social e econômico do país.
Deve assinalar-se que a dinâmica desta variável em Cuba seguiu uma trajetória peculiar, caracterizada por uma diminuição pronunciada na década de 1970 do passado século, até atingir valores abaixo do nível de substituição das gerações em 1978, num processo associado à última fase da transição demográfica.
Esta tendência à diminuição continuou até 1981, quando se atingiu o valor mais baixo do período, com 1,61 filhos por mulher.
A partir de então a situação se reverteu, e se manteve flutuante, com valores entre 1,72 e 1,93, até inícios da década de 1990, em que diminui marcantemente a 1,44 e 1,59, como as cifras mais elevadas.
O relatório indica que embora o século 21 trouxesse algumas esperanças quanto à recuperação deste indicador, até o presente não há evidência de que seja assim.
Em 2003, constatou-se que o país continuava passando por uma nova diminuição de sua fecundidade. Contudo, em 2008 foram registrados 10.097 nascimentos acima dos registrados em 2007, o que pode ser conjuntural.
O ONEI destaca que as mudanças na estrutura por sexo e idade da população, assim como em seu tamanho, terão uma incidência significativa nos serviços, na economia, assim como no funcionamento e composição da família.
Com dinâmica demográfica tão peculiar, que poderia ser definida como de crescimento nulo ou com população estável (anos em que diminui e em que poderia crescer, mas sempre em quantidades pequenas) é necessário manter um constante acompanhamento do comportamento das variáveis que intervêm, a fim de obter as previsões mais acertadas possíveis.
Ao estabelecer estas projeções se constatou um incremento dos óbitos, como reflexo do aumento do envelhecimento, apesar do aumento na esperança de vida. A migração externa, por seu lado, com saldo negativo, também se vê incrementada.
Quanto à mortalidade, as pesquisas mostram uma diminuição expressa num aumento da esperança de vida, com um valor próximo dos 81 anos para o caso das mulheres, e de 76,6 anos para os homens. Para 2030 se prognostica 82,6 e 78,6 anos respectivamente em cada um dos sexos.
NÚMEROS ENTRE QUILÔMETROS
Nos últimos anos, tem sido frequente sermos testemunhas, de alguma forma, dos movimentos populacionais conhecidos como migrações, seja internas ou fora do país.
Amigos, familiares e conhecidos fazem parte desta experiência na vida de qualquer cubana ou cubano, seja qual for a idade, embora a maior tendência tenha sido entre os jovens.
Segundo expõe o ONEI as migrações externas se manterão nas médias regulares, durante o decênio (2010-2020), e depois começarão a diminuir 25%, em cada novo quinquênio.
Entretanto, a migração interna se manteria constante nos níveis que mostram atualmente os territórios. Mas, como se entende este comportamento?
Ainda que esta seja a variável de mais difícil prognóstico, as estatísticas sugerem que nos últimos anos mostraram uma relativa estabilidade, tanto no plano interno como no externo.
Para elaborar os resultados, os pesquisadores trabalharam sob um princípio similar ao da fecundidade, ou seja, tomando o valor do saldo total médio anual dos últimos cinco anos, para cada território.
Os cálculos para as províncias foram feitos, por separado, nas migrações internas e externas. Assumiu-se o critério de que o saldo das migrações externas de signo negativo deveria manter-se nos atuais níveis médios, durante os dois próximos quinquênios, e começar uma diminuição de 25% em diante, até atingir números mais reduzidos para 2030, com valores negativos.
O relatório foi realizado com o apoio do Fundo de População das Nações Unidas, e o envolvimento de especialistas do Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (Celade), a Divisão de População da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), e tomou como ponto de partida o ano 2010.
No mesmo é esclarecido que os resultados substituem os obtidos na projeção elaborada em outubro de 2006, "Cuba. Projeção da População. Cuba e seus Territórios", elaborado para o período 2007-2025.
Segundo alertam os especialistas, a diminuição atual da população cubana começou no ano 2006, e manterá esta tendência com oscilações até o fim do período projetado (2030). Esta projeção confirma as tendências que lhe precederam, com uma diferença: desta vez as mudanças serão manifestas num período mais breve, o que requererá de esforços por parte da sociedade cubana, no sentido de achar soluções em médio e longo prazos.
(Extraído do Juventud Rebelde).
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